Já me lembrei muitas vezes de muitos pormenores, que passeiam livremente, e diariamente, pelo meu subconsciente. Dizem os entendidos que o nosso cérebro memoriza cada instante captado pelo nosso olhar, mas que o guarda no nosso subconsciente, para que o consciente não entre em sobrecarga, e nos aconteça o que vulgarmente se apelida de "virar a boneca", "passar-se para o outro lado", "dar-lhe a travadinha" .
Tudo isto serve para me relembrar de uns atacadores púrpura que vi no outro dia. Viviam nos pés de um habitante vestido de preto, cuja diferença residia apenas nos atacadores púrpura que as suas sapatilhas usavam.
Esses pés tinham possivelmente 20 anos, se calhar nem tanto, a avaliar pelas borbulhas que habitavam o tom lívido de uma face adornada de uns óculos, quase tão transparentes, como a sua própria existência.
Olhava para mim e o seu estado de alma não sei que côr teria, mas parece-me que os atacadores eram a unica cor que timidamente habitava aquele espírito, ou não fosse a côr púrpura a dita cor, daqueles que mais evoluídos são espiritualmente.
Na minha opinião o púrpura é apenas uma cor envergonhada, quase tanto como a do habitante das sapatilhas, emolduradas por uns atacadores que, com ou sem vergonha não se importavam de lhe apertar os pés.
O púrpura é a indecisão cromática de um azul pacifista e de um vermelho apaixonado. O púrpura é uma paixão refreada pela paz azul, de um vermelho que não se quer envolver muito.
A paixão roxa nasceu do vermelho apaixonado e da paz do azul pacífico e distraído, e transformou-se em atacadores...que atacam as sapatilhas mais tímidas, negras e as almas transparentes, ocupadas por insconscientes que captam tudo, até ao momento em que deixam de olhar para mim, e olham para as sapatilhas...já desatadas