Naquela manhã viajávamos no mesmo combóio. De um lado aquela mulher sonhava com que o tempo passasse mais devagar, olhando para toda a gente, e esperando alguém que possivelmente há muito já se teria ido embora. Desconfiei disso, quando a vi procurar o anel num dedo que já se esquecia de o ter. Do outro lado, viajava alguém que queria que o tempo corresse mais depressa, e tomava notas nas costas de um bilhete, das estações, e do tempo que demorávamos a chegar de uma à outra, depois de tocar o som ensurdecedor das portas a fechar.Viviam os dois num autismo singular, mas numa semelhança tão normalmente assustadora, que por momentos pensei que tivessem sido feitos um para o outro, apesar da diferença de idades, de educações, de posturas, e ...claro está...de estações.
Chego à minha estação, e eles continuam, um a tomar notas, o outro a procurar caras familiares, e dedos anelares vazios...e claro...ambos tinham vontade de chegar à estação certa...à hora marcada.